Minha primeira grande paixão
por outro homem aconteceu quando eu tinha 15 anos. Eu morava em Santos e
trabalhava em uma Administradora de Imóveis. Lembro-me de todos que trabalhavam
lá: o gerente era o Luiz, sempre alegre, brincalhão e daqueles que abraçava os
funcionários. Ele sempre me lançava olhares maliciosos, soltava elogios sobre
minhas pernas, coxas e como eu me vestia. Eu ficava desconcertado mas no fundo envaidecido!
Eu adorava usar calças bem apertadas que delineavam minha formas esculturais,
afinal tinha um corpo atlético, jogava bola, nadava! Gostava de chamar atenção
e de receber olhares por onde passava! Naquela época eu não retribuía e hoje eu
entendo que ele nutria uma atração sexual por mim. Tinha também o Arnaldo, do
mesmo jeito sempre de bom humor, magrinho tinha uma paralisia em uma das pernas
e andava mancando. E havia também o Zé Luís, mais calado e não menos engraçado
e brincalhão. Por este eu sentia o corpo todo arrepiar só em olhar! Era um belo
exemplar masculino com um corpo escultural; fazia judô e natação. Gostava de se
mostrar, sempre com calças apertadas denotando o volume avantajado do seu
membro! Era meio loiro, meio ruivo, cabelos fartos quase nos ombros! Me olhava
de um jeito que me deixava encabulado. Ele sabia que eu era virgem e me
assediava o tempo todo de forma velada. Arrumava um jeito de ficarmos sempre
sozinhos na sala de arquivos, onde tentava me agarrar exibindo seu grosso
membro envergado como o de um “sátiro”! Nunca cedi às suas tentativas e me
arrependo amargamente por isso! Rsrsrsrsrsrsrs...
Aos 16 anos, mudamos para
São Paulo, trabalhava na Mendes Junior próximo a esquinas da av. São Luis com
R. Xavier de Toledo. No horário do almoço, observava um homem branco, alto,
corpo esbelto, bem vestido; que almoçava no restaurante em frente, ele
atravessava a rua e entrava no prédio ao lado do meu. Sempre com um sorriso
aberto me lançava um olhar instigante. De propósito todos os dias, lá estava eu
na espera daquele sorriso lindo. Até que um dia eu retribuí e ele veio em minha
direção. Tremi dos pés à cabeça. Não sabia o que dizer, quando ele perguntou se
eu trabalhava ali. Ruborizado eu disse que sim e saí em disparada subindo
ofegante os lances das escadas até o meu andar. Meu coração parecia que ia
pular! No dia seguinte criei coragem e fiquei estrategicamente no meio do
caminho possibilitando um bate papo mais discreto. Conversamos e foi logo
perguntando se eu queria me encontrar com ele após o expediente, respondi que
sim! Então naquele dia fui parar em seu belo apartamento na R. Frei Caneca
perto da av. Paulista. Não houve preâmbulos, nem beijos calorosos, nem
carícias, a coisa foi nua e crua. Sem meandros foi direto ao ponto de maneira
rude e viril. Foi minha primeira decepção sexual, decepcionante e marcante pelo
fato de ser passivo na primeira experiência. Definitivamente não foi legal e
isso deixou cicatrizes por alguns anos; fiquei com medo de me envolver.
Comecei a frequentar boates
e bares gays na região central de São Paulo.
Os famosos “guetos” daquela época
tinham um clima intimista, com meia-luz nas mesinhas e músicas românticas nas “vitrolas
juke box”. Era o auge dos anos 80, gostava das grandes boates como a Medieval, o Nostro Mondo, a Homo
Sapiens (ou HS), e também dos bares “266 West”, “Val Improviso”, “Caneca de
Prata”, além do famoso “Ferro’s Bar” frequentado exclusivamente por lésbicas!
Vivíamos um clima de apreensão devido a ditadura militar, a perseguição
do delegado Wilson Richetti aos gays e travestis e depois com a explosão da
Aids.
As oportunidades e aventuras sexuais aconteceram espontaneamente, com o
vigor e a força de uma juventude, que ansiava por novas descobertas e queria
ser aprovado na faculdade da vida.
Lembro em especial de um
cara que encontrei em um barzinho, paqueramos e começamos a namorar. Ele se
apaixonou de imediato e me presenteava com passeios à lugares românticos pelo
interior de São Paulo. Mas como eu amava minha liberdade mais do que a mim
mesmo, terminei o namoro de forma melancólica! Eu era um jovem sonhador e só
tinha compromisso com minha vida! Não queria me prender à ninguém! Eu era
jovem, sabia dançar, me vestia bem e achava que não ia morrer nunca!!
Uma única constatação nesse
flashback é que eu jamais amei alguém. Tive alguns momentos de raras paixões,
movido pelo clima de alguma música mais envolvente ou por uma carência
momentânea. Por exemplo, mais tarde em meio a minha vida monástica, andando
pelas ruas, me esbarrei em um anjo dos cabelos loiros e olhos verdes, sorrindo
pra mim, me convidando a sair voando com ele pelas estrelas. Instante de total
perda de razão, cegueira emocional. Fiz malabarismos para estar entre quatro
paredes com aquele ser angelical e doce, em momentos de pura magia! O namoro
não durou muito. Fiquei sabendo tempos depois que ele se envolveu com outro
cara, contraiu aids e veio a óbito!
Naquela época de pouca
informação foi um choque muito grande. Mas eu segui em frente como um
descobridor dos setes mares.
Vivi um período no interior
da Bahia e lá pela proximidade de parentescos, tive meu primeiro amor platônico
por um amigo do meu primo. Ele era atencioso, me ajudava em tudo, na adaptação,
nas caminhadas pra roça, pro açude; fazia questão de me inserir na cultura
local. Um dia me levou para conhecer Salvador, fomos num restaurante na beira
da praia e ao lado dele me sentia especial. Naquele momento tive que me segurar
para não me jogar nos braços dele e me entregar de corpo e alma. Ele nunca
percebeu nem insinuou nada. Anos depois se casou e teve vários filhos. Nunca
mais o ví!
Também tive uma experiência
digamos diferente com um amigo mais próximo.
Ele estava passando por uma
situação emocional complicada com a namorada e se aconselhava sempre comigo. Eu
dava forças pra ele conquistar a moça, uma conhecida minha. Ele vinha todos os
dias em casa, passava horas e vez ou outra até dormia em casa. Detalhe, algumas
vezes tomamos banho juntos e dormíamos na mesma cama, entre aconselhamentos, eu
me abri e falei da minha atração por ele; que simplesmente abriu um grande sorriso
e disse: mas nós somos como irmãos! Disse que tinha enorme carinho por mim e
que me entedia. Dormimos abraçados muitas vezes e ele nunca sequer demonstrou
nenhum interesse sexual. Havia um respeito tão grande e por isso ficou marcado
em minha vida. Hoje somos grandes amigos, ele casou com uma mulher inteligente
que combina com ele e tem uma filha linda!
Como falei anteriormente,
vivi todas as experiências sem nenhuma expectativa do que viria a seguir. Entre
sonhos e dramas pessoais fui amadurecendo. Não me esqueço de nenhum daqueles
que ilustraram as páginas da minha vida. A grande maioria nem sei por onde
anda. Só sei que guardo cada lembrança como um souvenir raro que afaga minha
alma e me enche de gratidão!
E vocês, que lembranças
guardam dos tempos de iniciação?
*PS: Deixo abaixo alguns videos que encontrei no youtube, de um documentário "SÃO PAULO EM HI FI" do diretor Lufe Steffen de 2013; que retrata a vida gay nos anos 70 e 80.