Fiquei um período ausente devido a acontecimentos inusitados, que nos pegam de surpresa e nos deixam numa lacuna, num vazio...
Hoje faz 01 mês que meu amigo
Luciano nos deixou de forma prematura aos 40 e poucos anos. A ficha não caiu e
eu ainda vou passar um bom tempo até me acostumar com a ideia de que não mais
ouvirei seus conselhos, suas piadas, suas tiradas, seu humor refinado.
Não poderei ir mais à São José
dos Campos, pelo simples fato de que foi ele que me fez apaixonar pela
cidade, vai ser duro estar lá sem a presença dele! São José ficará nas minhas
melhores lembranças! Não vou falar que
foi um baque tremendo, que chorei sozinho, que implorei para que Deus o
restabelecesse, que vibrei quando ele abriu os olhos, se comunicou e que me
deixou na lona quando partiu sem avisar! Sua morte tão repentina me fez
repensar sobre minha própria vida... Nós que éramos contemporâneos, que
experimentamos as mesmas coisas, que vivemos na mesma época e compartilhamos
tantas experiências... agora sinto que uma parte de mim se foi e não mais
voltará!
Nossa amizade começou do nada,
em um dia comum e imediatamente sabíamos que era como se nos conhecêssemos há
décadas. Vivíamos em cidades diferentes, nem por isso deixávamos de nos ver.
Éramos como irmãos, pois ele tratava assim, à todos que queria bem. Ficamos um
longo período sem nos ver, apenas trocávamos telefonemas. Mas quando nos víamos
era como se nunca tivéssemos nos separado. Foram muitos convites para retornar
à sua casa, sempre tão hospitaleiro, acolhedor e cuidadoso.
Na penúltima vez,
fomos conhecer seu apartamento recém comprado, fruto de um sonho conquistado à
custas de seu belíssimo trabalho como Assistente Social. Ao lado de seu fiel
companheiro, fomos à um restaurante onde serviam vários tipos de caldos no
estilo “self service”... nunca tinha comido tantos caldos variados de uma só
vez! Passeamos e demos muitas risadas, conhecemos lugares aconchegantes e em
todo instante a certeza de que ele era querido por muitos. Suas qualidades emanava
o ser humano gentil que se importava com o bem estar do outro. E a última vez
fomos conhecer, a linda cidade de São Francisco Xavier onde ele juntamente com
seu companheiro, um outro querido amigo haviam alugado uma casa para veraneio,
foi um passeio memorável, nem a chuva atrapalhou nossa estadia lá. Passeamos,
tiramos muitas fotos, visitamos cachoeiras. E Luciano como sempre, companheiro,
generoso, fazendo com que tudo valesse a pena.
Então quando soube de sua
partida é claro que fiquei introspectivo, isso me trouxe questionamentos, reflexões
e uma constatação: o meu tempo também está diminuindo, acabando, se esvaindo...
E o que me resta fazer?
Não há respostas diante disso, apenas
uma vontade maior de viver e deixar algo registrado na memória daqueles que me
conheceram e compartilharam suas vidas comigo...
Não sei quanto tempo terei pela
frente, ninguém sabe, só peço à Deus que me permita partir em paz, sem
despedidas, sem choros, sem tristezas... me deixe apenar ir!
Não temo a morte porque a morte
não existe. Existe somente a separação até o dia em que viveremos novamente em
uma nova roupagem, em um novo ser, em uma nova dimensão!
Milan Kundera, escritor tcheco, escreveu no livro, "A Identidade", que a amizade é indispensável para o bom funcionamento da memória e para a integridade do próprio eu. Chama os amigos de testemunhas do passado e diz que eles são nosso espelho, que através deles podemos nos olhar. Vai além: diz que toda amizade é uma aliança contra a adversidade, aliança sem a qual o ser humano ficaria desarmado contra seus inimigos. "Contra esse mundo assustador que tá lá fora!"